segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Maradona



90 minutos. O tempo que bastava a Maradona para deixar nos relvados o seu génio e o tempo que Emir Kusturica necessitou para dar a conhecer o astro argentino em três perspectivas distintas, num documentário que aborda a vida de um dos melhores futebolistas do planeta. Maradona em campo, a festejar os golos; o Maradona político, a apontar o dedo aos dirigentes do Ocidente e na intimidade do seu lar, onde vive para a família.

«Maradona by Kusturica» tem uma vertente desportiva, mas também é um documentário sociológico, cultural e político. As figuras que Maradona carrega no corpo em forma de tatuagem revelam o seu espírito revolucionário activo. Fidel Castro e Che Guevara são exultados como os seus ídolos pelos quais «daria a vida». Estampado na sua t-shirt também ostenta várias vezes o líder norte-americano George W. Bush, a quem «El Pibe» apelida de «assassino» durante a conversa com Kusturica.

Este é um documentário que condensa a exuberância do realizador sérvio com muita música e vida. Ao mesmo tempo é triste e controverso, ao bom estilo de Emir Kusturica.

«Pelé foi rei. Maradona é Deus». Diego Armando Maradona é retratado com um verdadeiro Deus, a quem nem falta uma igreja, constituida por 60 mil fanáticos em todo o mundo, que lhe presta culto. A Igreja Maradoniana tem até uma versão do «Pai Nosso» adaptada à estrela argentina, proferida a quando da celebração de casamentos, onde o noivo usa a mítica camisola 10, que Maradona ajudou, e de que maneira, a celebrizar.

Maradona: o futebolista. Autor do golo do século, que Emir Kusturica fez questão de repetir várias vezes ao longo do documentário. Um lance mágico contra a Inglaterra no Mundial do México (86) que define o número 10 argentino na intensidade de uma carreira que poderia ter sido ainda melhor. Esse é um dos principais lamentos de Maradona. O argentino não esconde a mágoa e a dor de ter caído no último parágrafo que não estava escrito no guião que pré-definiu para a sua vida: a cocaína.

«Se a cocaína é uma droga, então sou drogado». O seu sorriso desmorona-se quando fala do vício que o afastou de vários aniversários das suas filhas, Dalma e Gianinna, e o deixou às portas da morte. Maradona acredita que só está vivo hoje em dia porque Deus que o ajudou.

A mão de Deus. «Foi como se tivesse roubado a carteira a um inglês», comenta o futebolista sobre o golo mais polémico da história. Uma vingança pelos soldados argentinos mortos pela Inglaterra no conflito das Falklands.

Maradona é assim. Simples, directo e corrosivo. De charuto na mão, o antigo futebolista refere já ter sido convidado várias vezes para cargos políticos, mas sempre recusou por «não ser mentiroso». Na sua mira está ainda a FIFA, especialmente a dupla João Havelange e Joseph Blatter, que apelida como o traficante de armas e o vendedor de balas.

Maradona: a família. De microfone na mão canta o hino que a banda «Los Piojos» lhe dedicou. Acompanhado das filhas e da ex-mulher Claudia, o seu grande suporte da altura, especialmente nas fases em que «nada sentia». Esta é outra das vertentes de Maradona retratadas no documentário. O miúdo sonhador que sempre teve a certeza que iria comprar uma casa para os pais. O pai, o marido e filho genial cuja vida já deu vários livros e filmes, mas nenhum como «Maradona by Kusturica». A intenção do realizador sérvio foi abordar todos os aspectos da vida do génio argentino e «fazer o melhor filme sobre Maradona».

Miguel Morais para IOL CINEMA

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